Angeles Ichausti

No capítulo anterior, Justina deu de cara com Céu, e, ao observar bem os seus olhos, teve a certeza de ela que era quem suspeitava.
- Angeles! – gritou Tina.
- Como? – disse Céu.
Mas não houve explicações, pois Tina acabou desmaiando de susto. Céu, desesperada, tentou acudi-la. Os órfãos chegaram perto.
- O quê aconteceu com a megera? – disse Leca.
- Ela morreu! – disse Jaz, assustada.
- Acho que não morreu, só desmaiou. – disse Rama.
- E o quê fazemos agora? – disse Leca.
- Vamos festejar enquanto a bruxa não está! – disse Tacho.
- Ah! Como pode ser tão insensível? – disse Jaz.
- Oh! Quer dizer... devemos ajudar a senhorita Justina a se levantar. – disse o garoto, se corrigindo, para impressionar a cigana.
- Vamos levá-la para o quarto. – disse Céu.
- Está bem, eu chamo o senhor Bartolomé. – disse Rama.
Logo, Céu e os órfãos levaram Justina para o quarto. Enquanto isso, Malvina tentava conquistar Cristobal. Ela ainda estava com a pele danificada pelo creme, por isso estava com uma aparência horrível. Nico havia pedido ao filho que desse uma chance à irmã de Barto, e o menino foi com ela fazer compras no shopping. Era para ser uma tarde divertida entre madrasta e enteado, mas se tratando de Malvina Bedoya e Cristobal Bauer, foi bem diferente. Ele fez de tudo para voltar para casa, mas também não queria desapontar o pai. Ela comprou várias coisas para ele, para ver se assim o menino a aceitaria.
- Como é bom fazer compras aqui, não é, Cristobal? – disse Malvina.
- Pode ser. Mas quando é de má companhia... – disse Cristobal.
- Então, gostou do que eu comprei para você?
- Você pode até fazer o meu pai de trouxa. Mas a mim, você não engana! Não tente me comprar!
- Mas... eu.... não... do quê você está falando?
- Você sabe muito bem. Acha que o dinheiro e as coisas materiais podem comprar alguém, comprar o amor de uma pessoa, não é?
- Mas não era essa a minha intenção! Só te trouxe para nos conhecermos melhor...
- Sei bem quais são as suas intenções! Veja o que eu faço com seus presentes! Veja!
Neste momento, Cristobal jogou todos os presentes de Malvina no chafariz, furioso.
- Não! Os presentes não! Ah! Meu dinheiro jogado fora! Eu gastei tanto para tentar agradar esta peste e ele faz isso!
Na mansão, os órfãos faziam uma guerra de travesseiros e brincavam, fazendo uma completa bagunça. Tudo porque Justina estava desmaiada e não podia castigá-los. E, para comemorar a ausência dela, fizeram uma festinha na fundação. Por outro lado, Thiago e Mar seguiam brigando. Até que o garoto se cansou, pois não agüentava mais tantas brigas.
- Já chega, Mar! Não estou aturando mais essas discussões. Por que você começou essa briga? – disse ele.
- Está bem, eu também não agüento mais. Vou explicar tudo. Mas antes, quero te pedir perdão. – disse ela.
- Você me magoou muito. Nem parecia aquela menina doce e alegre que conheci naquela fonte.
- Me desculpe. Eu errei. Sei que devo ter ferido seu coração. Mas saiba que foi para o seu bem.
- Tudo bem, está perdoada. Mas porquê disse que era para o meu bem?
- Ouvi sua discussão com Barto. Ele falou que se você falasse com um dos órfãos, seria mandado de volta para Londres. Você ficou revoltado. Por isso, tentei evitar ter contato com você. Se não, seria pior para nós dois.
- Ora, não precisava fazer isso. Não devemos acabar com nossa amizade por uma tolice do meu pai.
- Então eu sugiro que tenhamos alguém que mande nossos recados, de um para o outro.
- E quem seria? Um dos órfãos?
- Não. Tenho a pessoa ideal: a Céu.
No escritório, Justina recuperou a consciência e falou à Barto tudo o que descobriu. E ambos ficaram amedrontados com a suspeita de Céu ser Angeles. E lembraram de tudo o que aconteceu no passado envolvido à este mistério. Acontece que há anos atrás, os pais de Céu, o casal Ichausti, morreram, deixando Angeles (seu nome verdadeiro) sozinha no mundo. Barto e Justina, querendo se livrar de qualquer vestígio do passado, abandonaram Céu em uma praça, quando esta ainda era uma menina. Por isso o broche dela tinha o símbolo da fundação, pois o lugar fazia parte de sua história. Porém, ninguém sabia disso, e Barto e Tina decidiram guardar o segredo a sete chaves.
- Tina, não conte isto a ninguém. Isto está com você e morrerá com você. Nenhuma palavra mais sobre este assunto! – disse o vilão.
- Sim, senhor. Minha boca é um túmulo, e dela não sairá uma palavra sobre esta história. – disse ela.
Logo, Justina subiu algumas escadas secretas da mansão, até chegar ao sótão. Lá, havia uma menina sentada numa cama.
- Mamãe! O quê aconteceu? O quê houve lá fora? Você está pasma! – disse a menina.
- Luz, estou muito preocupada. Há algo que está me atormentando. Por enquanto, não posso te dizer o que é. E você não entenderia. Bem, não é nada. Não se preocupe comigo, eu estou bem. Tomou o café da manhã?
- Sim, estava delicioso. A guerra lá fora ainda continua?
- Sim! Claro, a guerra. É, continua sim. Está um horror lá fora. Me prometa que não sairá deste sótão em hipótese alguma, ouviu?
- Tudo bem, mamãe. Se você falou, é porque é o melhor para mim.
A menina chamava-se Luz. Na verdade, ela é a irmã de Céu, que Justina cuidava escondendo-a no sótão. Acontece que quando os pais de Angeles morreram, Luz era recém-nascida, e quando Céu foi abandonada, Tina teve pena da bebê e decidiu cuidar dela. Porém, a menina passou a vida inteira trancada no sótão da mansão, sem ter nenhum contato com o mundo exterior. Justina dizia que ela não podia sair, pois havia uma guerra acontecendo lá fora. E Luz seguiu com este pensamento por muitos anos. Ás vezes questionava.
- Mamãe, sei que devo confiar e acreditar em você, mas, nunca vi nenhum sinal de guerra lá fora. Nenhum barulho, gemido, grito de dor, nem nada. Pelo menos pelo que eu ouvi daqui. Tem certeza de que existe mesmo uma guerra? Será que não posso ter uma oportunidade sequer para ir lá fora e sentir o ar da liberdade? Para ter amigos, ver o sol, sentir o vento?
E Luz ficava questionando todas estas questões. Diante disso, Justina não sabia o que dizer ou fazer.